Hoje quero escrever sobre essa maravilhosa experiência de
escolher uma refeição no cardápio de um restaurante para o meu filho ...
Já não foi a primeira vez, estou em atraso nos fatos, mas ontem, ainda ficamos (eu e meu esposo) contemplando aquela cena sulrreal, nosso menino comendo à
mesa, arroz branco, maminha assada, feijão verde e batata frita. Nada veio
dentro da bolsa, tudo veio quentinho da cozinha do estabelecimento.
É bem
verdade que veio a primeira maminha, e exatamente na hora que eu passava uma parte
dela para o prato do meu pequeno, o garçom surgiu me impedindo, dizendo
"desculpa, senhora, houve um
acidente, passaram manteiga aí", e tivemos então que esperar mais um pouco
pelo novo pedido.
Para que compreendam a razão da emoção e a razão do "exagero",
preciso explicar duas coisas...
O Exagero
Existe um miserável nessa história, chamado
"traço", e a maioria das pessoas não dão nada por ele, na verdade,
nem sabem que ele existe! Mas ele estará lá, toda vez que se alojar em um
arranhão sutil de um recipiente plástico, ou em um poro de esponja que passeia de
louça em louça, ou em uma molécula de respingo que voa de uma panela pra
outra....enfim, é ele, o traço infeliz de leite, de ovo, ou de seja qual for o
alimento.
O traço não tem tamanho determinado, ele é uma espécie de ser
abstrato (mas é concreto!) , pode ser grande, ser pequeno, diluir-se uniformemente ou permanecer
num cantinho somente daquele prato de arroz inocente. O arroz que foi temperado
apenas com alho, cebola e sal foi pra mesa com o digníssimo, o troço do traço.
E esse, nosso filho não podia comer.
Um menino que fez reação de anafilaxia com
6 meses de vida, e que com o sopro de um hálito cheio de leite o fazia pipocar
de bolinhas na pele, um menino que vivia vermelho e com as mesmas bolinhas toda
vez que uma visita o beijava ou o abraçava, esse menino certamente não poderia
com traços.
A Emoção
Por todas essas questões levemente explicadas acima, nossas
idas aos restaurantes eram assim (da mesma forma que as idas a qualquer lugar):
sentávamos todos à mesa, conversávamos, fazíamos o pedido, a comida chegava,
era o momento de eu me levantar com meu bebê nos braços. Ele avançava para todo
tipo de comida, pra surpresa de toda gente, é verdade, ele partia para o ataque com
olhos, bocas e mãos. Portanto, solução acertada era ir pra bem longe.
Depois
que todos comiam, vinha a segunda fase da jornada: o primeiro a terminar de
comer, meu marido, minha mãe, meus irmãos, minha irmã ou meu pai (graças a Deus
o time aqui é grande!) ía PRIMEIRO no banheiro, lavava as mãos e boca com
bastante sabão e água, para então ir ao nosso encontro ficar com meu filho... Eu voltava para a mesa, fazia meu prato, olhava para minha família, uns
já alimentados, outros quase no fim, e eu só ali começando. A comida, não
lembro, mas devia já está fria. Lembro bem de ficar olhando nas mesas do lado,
admirando as crianças comerem ao lado dos pais da mesma comida, sem se
preocupar com mãos, com nada... Eu tinha uma vontade muito grande de dizer para
eles "vocês sabiam que isso que vocês estão fazendo é mágico? é lindo? é
maravilhoso?" kkkkk
Sei que existem situações muito piores gente, nossa, é até uma infâmia dizer
que é sofrimento não poder dar comida de restaurante pra um filho. Mas apenas
quero que entendam, porque é tão emocionante ver meu filho hoje, fazendo
justamente isso! Certo que não pode ainda ser nada com queijo, ou manteiga, ou
nata, ou ovos...mas já não preciso me preocupar com a panela onde foi feita, com
o óleo da fritura compartilhada com a bolinha empanada.
A evolução conquistada de uma luta diária, de muitas
histórias pra contar, enfim se materializou nessa casa, na minha vida. Essa é
minha fatia de otimismo de hoje diante de todo realismo dos meus meses mais
recentes.
Evoluir é fato presente.