terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Incluir de verdade! Começar por você!


Deficiência é um conceito abrangente demais para se classificar dentro de uma população. Deficientes somos todos...de coisas pequenas, de coisas grandes, de coisas visíveis ou discretas, de coisas concretas ou de sentimentos, carismas, dons, conhecimentos....todos, sem exceção, somos deficientes de alguma coisa importante.

O termo "deficiente físico", que na verdade pode ser também cognitivo e mental, está sendo representado na sociedade, através de ações sociais, jurídicas, urbanas etc, porque existem realmente pessoas que, por conta de suas deficiências específicas, sofrem duramente para serem incluídas dentro das atividades e direitos de qualquer ser social.

Por conta de amanhã, 3 de dezembro, ser o dia estabelecido pelas Nações Unidas para se celebrar o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, quero deixar aqui meu clamor por mais AMOR , por mais calor humano, mais tolerância, generosidade, companheirismo, amizade, humildade... de um humano para outro humano. Humanos que somos, amemos uns aos outros, sejam deficientes do colorido ou do transparente. Sejamos exemplos para nossas crianças, antes de qualquer ensinamento que o mundo os traga.

Ontem, tivemos o fechamento de uma ação, idealizada pelo Conselho da Pessoa com Deficiência de Curitiba, que polemizou o tema através de um método bastante ousado: foi criado uma página no Facebook e implantado um outdoor real com revindicações preconceituosas. (Conheça sobre esta ação clicando aqui).

É claro que a forma adotada feriu e machucou deficientes e seus parentes, mas passado o susto e consternação e sensibilizados pelas palavras de Mirella Prosdocimo, presidente do CMDPcD, é possível simpatizar com o que, há tão pouco tempo, repudiamos. É possível cogitar que todo o custo de aborrecimento gerado seja justificado pela necessidade de fazer cada pessoa refletir sobre inclusão. Não estamos falando da inclusão que a Escola, a Igreja, o Restaurante, as Instituições todas devem efetivar. Estamos falando da inclusão que cada pessoa deve admitir em relação ao outro dentro de si mesma, a aceitação verdadeira do outro. 

Por fim, o que se questiona é simples realmente: Você, que não é um deficiente mas que ficou revoltado com a página, respeita por exemplo uma vaga prioritária? Nunca estacionou sobre o símbolo da cadeira de roda por julgar que nenhum cadeirante precisaria dela naquele momento? E quanto ao custo com itinerante ser pago pelas escolas? Você está disposto a arcar com o aumento que isso poderá acarretar na sua mensalidade? Ou pensa "o problema é de quem pariu Mateus"? Outro teste: ficaria feliz se sua filha se apaixonasse por um homem surdo? Está atento ao fato do seu filho humilhar o colega autista que não joga com destreza no time de futebol da escola?... Enfim, como o próprio movimento pós-desmascaramento justificou, se todos que se revoltaram estivessem mesmo cientes dos direitos das pessoas com deficiência, não haveria tanto desrespeito a estes. Acredito que a campanha, apesar de cruel, alcançou o objetivo que por outras formas talvez não fosse possível... fez as pessoas discutirem o assunto, alardeou e se multiplicou, chamou a atenção em larga escala e por fim, põe em cheque a atitude real versus o mero discurso.

Assista o vídeo que esclarece o teor da tal campanha publicitária clicando aqui.


quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Jantar (nem tanto) Italiano :)


Alguém precisando fazer um jantar italiano sem Leite, Soja e Ovo? 

Não tive italianos para comentar o sucesso da minha aventura, mas agradou brasileiros... :)



Segui o planejamento tradicional, servindo primeiramente Bruschetas como o Antipasto (entrada), em seguida o "primo piatto"(Risoto), depois o "secondo piatto"(Peru e batatas), e finalmente a "dessert".


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Sobre o créditos: Vou linkar em cada receita, apenas a fonte de inspiração, porque fiz do meu jeito, vou descrever aqui exatamente da forma que eu produzi, então não vou atribuir a outras pessoas, sem a permissão das mesma...mas pra não ser injusta, vai os links ;)



ANTIPASTO: Bruschetta de Tomate e Manjericão
inspiração:link

Ingredientes: 
5 Baguetes cortados em fatias de 2cm
4 tomates sem pele e sem sementes picados 
Alguns ramos de manjericão fresco 
3 colheres de sopa de azeite extra virgem
sal e pimenta moídos na hora
2 dentes de alho inteiros
Azeite para untar (aproximadamente 5 colheres)

Preparo: 
Pré-aquecer o forno;
Processar o alho e o azeite para untar as fatias, passar esse molho em apenas uma face de cada fatia;
Distribuir as fatias untadas numa assadeira, sem sobrepor nenhuma, e leve a forno para dourar levemente. Vire as fatias para outra face e deixe um pouco mais no forno (cuidado para a torrada não ficar muito dura); 
Prepare a cobertura, misturando bem os tomates, o manjericão picado, o sal, a pimenta e o azeite. Por fim cubra com uma porção do tomate e sirva imediatamente.


PRIMO PIATTO: Risoto de Alho Poró com Limão Siciliano
inspiração:link


Ingredientes: 
2 litros de água
Restante da receita "Peru
Ervas finas
Folhas de manjericão
Folhas de louro
Sal
2 colheres de sopa de Becel
6 dentes de alho triturado
2 cebola picada
2 talos de alho poró
500g de arroz arbóreo
suco de 2 limões sicilianos
1 taça de vinho branco

Preparo:
Ferver em aproximadamente 2 litros de água: Os ossos com restos da carne do peru (receita Peru Salteado com Champignon, abaixo), ervas finas, manjericão, folhas de louro e sal;
Em outra panela: Derreter 1 colher cheia de becel gelada e refogar o alho e a cebola até dourar. Acrescentar o alho poró e refoga mais até amolecer. Misturar o arroz arbóreo e mexer bem até absorver toda a Becel. Acrescentar o suco dos limões sicilianos e mexer novamente. Acrescentar o vinho branco e mexer. Então, vá colocando a água temperada em fervura da outra panela, de 2 em 2 conchas, sem parar de mexer. Quando tiver repetido esse processo umas cinco vezes, acrescentar todo o restante da água peneirada e tampar a panela (deixando um espaço para o vapor escapar). Cozinhe até o arroz ganhar ponto de risoto, tendo cuidado para não secar demais. (pode repor mais água para ferver junto ao tempero peneirado).


SECONDO PIATTO: 

Peru salteado com Champignon

inspiração: link

Ingredientes:
6 coxas de peru
suco de 2 laranjas
400 g de cogumelos champignon
3 dentes de alho
1 cebola picada
9 colheres de sopa de vinho tinto
2 copos de vinho branco 
15 colheres de sopa de azeite 
Gengibre fresco (à gosto)
1/2 pimentão amarelo picado
6 ramos de alecrim
sal e pimenta à gosto
coloral

Preparo:
Comece retirando as carnes da coxa de peru e cortando em cubos (cuidado para não deixar osso na carne, pois a coxa de peru é cheia de espetinhos que podem incomodar na degustação);
Ponha o peru em cubos para marinar com o suco de laranja, o vinho tinto, o vinho branco por pelo menos 10 minutos;
Corte os cogumelos em laminas bem finas, triture o alho e o gengibre, e reserve;
Numa panela com azeite quente, refogue o alho, a cebola, o pimentão e o gengibre; adicione o peru drenado do líquido da marinada (reserve o líquido) e os ramos de alecrim. Mexa bastante até que a carne fique superficialmente frita, adicione os cogumelos, o sal, o coloral, mexa novamente. Acrescente o caldo da marinada e deixe cozinhar a meia-tampa, mexendo quando necessário.

Batatas aromatizadas com canela

créditos: link (Esse eu fiz tal qual receita, ficaram ótimas! mudei um pouco só alguns procedimentos, como escrito abaixo)

Ingredientes:
1kg de Batata Inglesa
4 colheres de azeite
1 colher de chá de canela
água
sal

Preparo:
Descascar as batatas e cortar em fatias ao comprido e leve ao fogo numa panela com água e sal para cozinhar (desligue o fogo 1 minuto depois da fervura);
Forrar uma assadeira com papel manteiga e distribuir as batatas uma do lado da outra. Misturar o azeite e a canela, e regar as batatas com esse molho;
Temperar com sal e pimenta;


Levar ao forno pré-aquecido (200°C) de 35 a 40 minutos até que as batatas fiquem douradas e crocantes.

 

DESSERT: 

Palha Italiana

Essa receita é minha

Ingredientes:
600ml de leite de côco
100ml de água
200ml de vinho tinto
3 xícaras de açúcar
6 colheres rasas de amido de milho (maisena)
8 colheres de cacau em pó
2 pacotes de biscoito maisena (sem alergênicos)

Preparo:
Ferver: o leite côco, a água, o vinho e o açúcar. Ao ferver, baixar fogo e cozinhar por mais 15 minutos. Desligar;
Dissolver o amido em uma pequena quantidade da base, e misturar ao restante da panela;
Acrescentar o cacau em pó, mexer até misturar bem e ligar novamente o fogo, mexendo sempre até encorpar;
Depois de frio, acrescentar 2 pacotes de biscoito maisena picado (pouco mais que 200g) e misturar bem;
Espalhar sobre uma assadeira forrada em papel manteiga e levar a geladeira para endurecer. Servir gelada, pode acompanhar sorvete de sua preferência e ser povilhado com a farinha do biscoito maisena.

 






terça-feira, 10 de novembro de 2015

Bem vindos à Holanda!


Conheci esse texto na leitura de uma importante gastropediatra ao fim de sua palestra...procurei muito na busca do google, até que hoje o achei...
É tão intenso e verdadeiro! Merece muito ser compartilhado...

Autoria: Emily Perl Kingsley


"Bem vindos à Holanda"

Freqüentemente sou solicitada a descrever a experiência de criar um filho portador de deficiência, para tentar ajudar as pessoas que nunca compartilharam dessa experiência única a entender, a imaginar como deve ser. É mais ou menos assim... 

Quando você vai ter um bebê, é como planejar uma fabulosa viagem de férias - para a Itália. Você compra uma penca de guias de viagem e faz planos maravilhosos. O Coliseu. Davi, de Michelangelo. As gôndolas de Veneza. Você pode aprender algumas frases convenientes em italiano. É tudo muito empolgante. 

Após meses de ansiosa expectativa, finalmente chega o dia. Você arruma suas malas e vai embora. Várias horas depois, o avião aterrissa. A comissária de bordo chega e diz: "Bem-vindos à Holanda". 

"Holanda?!? Você diz, "Como assim, Holanda? Eu escolhi a Itália. Toda a minha vida eu tenho sonhado em ir para a Itália." 

Mas houve uma mudança no plano de vôo. Eles aterrissaram na Holanda e é lá que você deve ficar. 

O mais importante é que eles não te levaram para um lugar horrível, repulsivo, imundo, cheio de pestilências, inanição e doenças. É apenas um lugar diferente. 

Então você deve sair e comprar novos guias de viagem. E você deve aprender todo um novo idioma. E você vai conhecer todo um novo grupo de pessoas que você nunca teria conhecido. 

É apenas um lugar diferente. Tem um ritmo mais lento do que a Itália, é menos vistoso que a itália. Mas depois de você estar lá por um tempo e respirar fundo, você olha ao redor e começa a perceber que a Holanda tem moinhos de vento, a Holanda tem tulipas, a Holanda tem até Rembrandts. 

Mas todo mundo que você conhece está ocupado indo e voltando da Itália, e todos se gabam de quão maravilhosos foram os momentos que eles tiveram lá. E toda sua vida você vai dizer "Sim, era para onde eu deveria ter ido. É o que eu tinha planejado." 

E a dor que isso causa não irá embora nunca, jamais, porque a perda desse sonho é uma perda extremamente significativa. 

No entanto, se você passar sua vida de luto pelo fato de não ter chegado à Itália, você nunca estará livre para aproveitar as coisas muito especiais e absolutamente fascinantes da Holanda.



domingo, 10 de maio de 2015

Maternidade


Hoje meditando sobre meu pouco entusiasmo por datas comemorativas, percebo que isso é mais uma das inúmeras qualificações que preenchem minha ficha para possível alienígena, vivendo inconscientemente no planeta Terra. Esqueço datas de aniversários de pessoas importantes, inclusive o meu. Lembro que numa época "remota", ainda na infância, costumava contar os dias e até os meses pra ficar finalmente um ano mais velha. Não tínhamos o costume de festas, lá em casa...outros tempos! Saudosas e simples comemorações caseiras, que de dez em dez anos eventualmente aconteciam. Mas claro, eu esperava ansiosa pelos presentes, acertadamente um do meu amoroso pai.

Daí os anos foram passando, a ponto de um ano a mais representar já um peso incômodo, um após o outro numa velocidade incrível! E até os presentes foram perdendo o encanto, as máscaras já caídas, alguns bons valores estabelecidos, os maus valores sendo rasgados aos poucos... O tempo foi me fazendo entender algumas coisas importantes sobre 'datas comemorativas'. Uma delas: presentes são obrigações que custam caro, representam uma conta a mais no cartão de crédito, um item a mais dentro do guarda-roupa, muitas vezes sem uso, mofando numa gaveta, pra justificar um padrão de ética útil apenas para o dono da loja que o vendeu. E a outra coisa que aprendi sobre datas comemorativas? Porque comemorar uma data? Porque comemorar apenas o dia que você chegou nesse mundo de luz, som e sentimento? Porque? Se todos os outros dias foram e são mais importantes que ele? Todos os dias que marcaram uma grande passagem na sua existência...todos os dias que você aprendeu alguma coisa importante dessa vida... que te fez mudar de opiniões, de estratégias, que te tornou alguém melhor, que te possibilitou virar a última página de um grande capítulo, que te mudou o rumo. A vida é para ser comemorada vivendo! Quem te ensinou que precisamos comprar um presente sem valor mas que custa uma boa parcela do teu salário? Quem te ensinou que precisamos fazer uma grande festa com mimos e decoração da moda para ficar bem na fotografia? E passei a comemorar as datas dos outros, mas a minha não. A minha, eu comemoro todos os dias quando abro o olho e consigo vencer a mim mesma, eu, minha pior e mais perigosa algoz, eu venço todos os dias a mim mesma, e me levanto, e faço minhas obrigações, e corro e corro e corro.

Ontem foi um dia de shoppings lotados, consumismo feroz, eu também estava lá rsrs...Afinal dessa vez às pessoas realmente se endividam por alguém que realmente merece! Neste segundo domingo de maio, eu já comprei meu próprio presente, o da minha mãe e o da minha sogra. Mas não podia deixar de poetizar a pureza, não da data, mas da maternidade, essa entidade ou coisa inexplicável, que de tão grande e cheia, não consegue caber em nenhuma palavra já inventada sem ser injustamente subdimensionada.

A maternidade caiu na minha vida simplesmente como um rojão devastador, exatamente assim, numa fração de instantes, e eu, ingenuamente, acreditava que estava esperando e planejando e sonhando com ela... nunca! Nunca eu teria a proporção aproximada do que me esperava por trás daquele lençol na sala de cirurgia...vida que eu nutri, vida que chorei e sorri, vida que acalentei e vi crescer e se transformar a cada novo dia. Meu filho me transformou em mãe, e ser mãe me transformou na criatura que eu nunca imaginei ser um dia. Meus planos, se existiam, os vi sendo arrastados por outras vias, e eu fui seguindo a correnteza das novas águas, e eu nunca nadaria contra esta força...

Quando finalmente me vi convencida de que aquele "maior amor do mundo" nunca poderia ser dividido com mais ninguém, veio minha filha pra provar que a mágica poderia ser ainda mais bela e inacreditavelmente arrebatadora: o amor se multiplica sem prejuízo de nenhum mísero grão do sentimento que já existia. E quantos filhos eu tivesse, minha mãe estava certa, eu os amaria da mesma intensidade, sem preferir seletos filhos, o amor é simples e cabe no coração da mãe...Deus há de explicar!

Esta semana, fui às comemorações escolares em homenagem às mães...Curiosamente, foi minha primeira experiência, mesmo meu primogênito já cursando o Fundamental e minha caçula já no terceiro Infantil.  Nos anos anteriores, sempre tinha um motivo maior que me impedia a participação, mas este ano, mesmo sendo inauguração, fui sem pensar em chorar, e chorei...

Chorei com Maria Rita cantando:
"Crescendo, foi ganhando espaço / Pulou do meu braço/ Nasceu outro dia e já quer ir pro chão / Já fala mãe, já fala pai / Já não suja na cama..."
Chorei, porque comigo as coisas não aconteceram exatamente assim como acontece com todo mundo... mas daí, a canção continuou e eu fui chorando mais ...
" Tropeça e seguro e não deixo cair / Se cai, levanta, continua / A porta da rua fechada / Criança não deixo sair" ...
E quando a arte me apresenta a estranheza de ser diferente de todos, e ao mesmo tempo tão igual, depois de passadas pelas mãos as pedras que boleei pelo caminho, veio outro verso...
" É cria, criatura e criador / Cuida de quem me cuidou / Pega na minha mão e guia"...
Daí eu chorei porque a maternidade da minha mãe me trouxe até a minha própria maternidade como uma ciranda de roda realmente, costurada por mãos de várias gerações que se eternizam na invisível herança. Estou aqui com meus dois filhos, minhas mais belas obras dessa vida, minhas duas catedrais em constante processo de construção...
Este é o nosso segredo, que por mais revelado, por maior desejo nosso de repassá-lo nos livros, nas vozes, nunca homem nenhum poderá saber como bate o coração de uma mãe... Parabéns mulher que nasce, parabéns mulher que morre, parabéns mulher que vive! Parabéns ser feminino que carrega um coração do tamanho imensurável, coração materno. 

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Dia de Conscientizar...


Esse gráfico representa a evolução dos diagnósticos para Autismo em 4 décadas. Em 2010, um estudo apontou a proporção de 1 a cada 68 crianças já! Enfim, é muita coisa!

E em minha contribuição para o dia de hoje, é compartilhar algumas coisinhas que aprendi sobre autistas... por tanto, dá-me teus paradigmas, e eu te dou minhas verdades...Bjo!

1) Autistas vivem isolados num mundo só deles?
Não. Vivem nesse mesmo mundo SIM. Quando você fala com um deles e não é respondido ou olhado, é porque eles estão altamente concentrados em outro foco de interesse. Procure chamá-lo pelo nome, de forma incisiva, bem pronunciada, usando palavras simples e frases curtas. Procure ficar no campo de visão, olhar nos olhos.


2) Autistas são aquelas crianças que ficam com movimentos repetidos pra frente e pra trás, gritando e fazendo estereotipias o tempo todo? 
Não. O Autismo é um transtorno de inúmeros graus de severidade, pode se misturar imperceptivelmente na multidão sem ser notado. Muitos olham no olhos, abraçam e beijam. Eles amam e criam laços intensos com o outro. 
Tem dificuldade de entender analogias e duplos sentidos. 
Tem dificuldade de reconhecer ironias. 
Acreditam nas palavras e nas pessoas, são exatos e autênticos. 
Têm desmodulação sensorial, o que altera a sensibilidade das sensações de volume dos sons, texturas da pele, o volume da própria voz, o entendimento dos espaços e do próprio corpo, tem limiar de dor diminuido ou ampliado em excesso etc...


3) Autistas precisam estudar em escolas especiais?
NÃO!!! Eles tem inteligência preservada, e muitas vezes com altas habilidades, apenas precisam de metodologias específicas e artifícios de adaptação, que nunca atrapalham os demais, pelo contrário: são métodos que beneficiam o aprendizado coletivo, de toda e qualquer pessoa.


AUTISTAS NÃO PODEM VIVER ISOLADOS! Precisam interagir com as pessoas, exercitar o convívio, serem acolhidas sem exclusão. Precisam se espelhar nos padrões externos, precisam aprender com exemplos vivenciados.

sábado, 21 de março de 2015

Por que elas publicam fotos no dia 2 de abril...



Ano passado sentei-me num auditório com mais algumas dezenas de pais e mães para ouvir uma psicóloga discorrer sobre assuntos  infantis. Por acaso era 2 de abril, dia em que se comemora a conscientização sobre o Autismo, mas o roteiro da palestrante não vislumbrava o tema especificamente, no entanto, o contemplou, infelizmente, de uma forma dolorosa para mim, ou para qualquer pessoa que tivesse um mínimo de laço afetivo com pessoas autistas.

Não esqueço uma das falas que dizia assim "Hoje é dia 2 de abril, vocês sabem? É dia do autismo né? É dia que a gente vê um monte de mãe postando foto do filho no facebook 'olha,  meu filho autista' " e ainda finalizou com um "agora a moda é ser autista" - tudo, claro, com direito a risinho de deboche...

E logo depois, a mesma 'psicóloga', enquanto falava sobre os males do corpo que são gerados por 'falhas' comportamentais na vida das crianças, ela citou o caso de muitos diagnósticos de autismo serem observados nos abrigos de menores abandonados pelos pais.

Não lembro qual foi a primeira ou a segunda pérola, só sei que numa delas, eu me levantei engasgada, com um grito no peito e uma vontade de bater em alguém....mas sou pacata, fui embora com minha consternação, e só desentalei depois de uma carta que escrevi pra palestrante.



É impressionante que eu,uma reles mãe, arquiteta de formação, saiba mais que uma psicóloga, sobre um tema tão persistente na sua área. Provavelmente ela seja uma  seguidora de Freud, mas já é antiga e ultrapassada essa teoria de "falta de amor dos pais" causar autismo.

O conceito de “mães-geladeira”, sugerido inicialmente por Kanner, difundido por Bruno Bettelheim ainda na década de 1950, defendia que o Autismo era consequência de uma rejeição inconsciente dos pais, chegando a ser tratado com psicoterapia para os pais nesse sentido de "restaurar" o afeto.  

Em publicação de 1979, uma das mães "tratadas" por Bettelheim diz assim: “Eles nunca estiveram realmente interessados em nosso filho, mas solicitavam que meu marido e eu comparecêssemos todo o tempo – o tratamento era direcionado em nós. Ambos acreditávamos que nos amávamos antes de ir lá e, após este tempo, as coisas nunca mais foram as mesmas, mesmo que já se tenham passado quinze anos. (...) Não, ninguém amava mais alguém ou algo do que eu amava meu filho. Eu daria minha vida por esta criança, pelo menor sinal de sua melhora. E eu faço isto todos os dias”.1 Dá pra acreditar numa coisa dessas? Imagina a culpa que os pais carregavam nas costas, a ponto de fazer terapia "para aprender a amar"!

Resumindo, hoje, já se sabe por comprovados estudos, que em um orfanato há tantos autistas como numa escola, como numa cidade, enfim, não pelo infortúnio da falta de afeto, mas por ser um lugar tão provável de ter autistas, como qualquer outro lugar na face da terra. Não existe essa incidência maior lá, a não ser que seja por abandono da família, que desesperada, não sabe como conviver com aquela criança diferente, mas aí, o abandono se dá após o autismo, e não o contrário.

E quanto ao Dia Mundial da Conscientização do Autismo o que posso refletir sobre a (des)graça de uma piada sutil? É que sim, realmente precisamos desse dia, não para celebrar, mas para propagar o Autismo...para que consigamos por fim extirpar esse conceito insano e cruel sobre a hipótese da "falta de amor". É verdade: ainda existem muitos profissionais da psicologia, principalmente os freudianos, que acreditam nos fundamentos de Bettelheim.

É preciso que as pessoas saibam que o Autismo não é um rótulo definido, mas sim um espectro, que torna cada criança diferente da outra... Tampouco tem características estáticas, pois é passível de piorar, estacionar, evoluir... Ela é deficiente na socialização, portanto depende da Sociedade pra se fazer evolução.  

É preciso ensinar as pessoas que autistas amam, abraçam, sorriem, se divertem, criam histórias, desenham, estudam, inventam, beijam, e olham nos olhos.

É preciso que todos descubram a beleza que tem dentro de cada um, e que não são eles que se fecham para o mundo, mas sim, o mundo que se fecha para eles.

Pois então, para quem perguntar porque mães postam fotos de seus filhos autistas e vestem azul no dia 2 de abril, eu respondo: estamos abrindo o mundo para nossos filhos! 

Leiam, informem-se, e descubram o que é o Autismo.

Escolas e Clínicos da infância, estudem mais que qualquer entidade! Saibam encaminhar suas crianças o quanto antes, sem medo da revelia dos pais, pois o diagnóstico precoce beneficia e muito no tratamento.

Sociedade, respeite, compreenda e deixe-se conquistar, sem preconceitos... Abram suas mentes e seus corações.



1 Fonte de pesquisa: Uma Pequena História do Autismo, Cadernos Pandorga de Autismo, volume 1, de Fernando Gustavo Stelzer, publicação de junho de 2010.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Entre Braços e Abraços...

imagem deste sítio: AQUI

Vivo dizendo que conviver com crianças "fora do padrão" é algo que beneficia muito mais aos ditos "normais". E há uns dias atrás, aconteceu algo comigo que materializou bastante essa teoria, e por isso mesmo, acho válido e até meu dever compartilhar. Confesso que sempre tenho um pouco de receio de magoar pessoas quando falo de assuntos mais delicados, mas neste caso, sinto-me um pouco mais confortável, afinal também tenho um filho "despadronizado", incluído em algum lugar do vasto espectro autista.

Então, como eu dizia, pessoas precisam aprender a respeitar pessoas, sejam elas de outra cor, outra religiosidade ou outra região do país; sejam elas sem um braço ou uma perna, obesas ou esquálidas; sejam elas com síndromes de Down ou de Asperger, sejam autistas... respeitar quer seja rica, pobre, mestranda ou analfabeta, masculinas ou masculinizadas, femininas ou feminilizadas; quer tenham uma opinião diferente sobre aborto, celibato ou política, quer sejam diferentes...

O que acontece é que muitos adultos (diria, a maioria, inclusive eu...isso deve ser um exercício diário de cada ser humano) têm extrema dificuldade de enxergar o outro como "igual", e até mesmo de entender que um dia pode estar REALMENTE e materialmente no lugar daquele outro, visto que "o mundo gira" e "o futuro a Deus pertence". Mas acredito plenamente que esse exercício pode ser facilitado e até espontâneo aos cidadãos das próximas gerações, se começarmos a viabilizar convivências desde a infância. Na verdade, esse é um processo natural, e que só não existe há muito tempo, porque o homem modificou o traçado social, incluiu a segregação em tipologias, em "panelas"...e isso, como diria a beata "não é de Deus", e eu complemento: "nem é do homem", eu acredito no homem...

Neste dia, eu estava com meus filhos (o menino de 6 e a menina de 3) e de repente a Bela* surgiu ao nosso lado e tentou abraçar minha filha, que entretanto se esquivou de imediato, olhando para seu braço. Logo, ajoelhei-me procurando me equiparar a altura de ambas, e pedi: "Filha, dê um abraço na coleguinha". Mas ela se afastou um passo a mais.

Nessas horas, temos apenas décimos de segundos para pensar, e infelizmente não somos profissionais em psicologia infantil, mas o que me ocorreu de instante foi abraçar Bela, que não apenas recebeu e retribuiu meu abraço, como também me beijou a face.

Olhei para minha filha, observadora e inocente, predestinada a ser lapidada. Tamanha obra de arte seria responsabilidade minha... Senti que aquele era um momento-marco nesse longo e delicado processo, que é a construção de seres humanos.

Despedi-me de Bela, que acenava sorridente, enquanto meu menino (só então percebi) apontava discretamente o polegar para o braço de Bela, como faria da mesma forma, se visse um cavalo voando no céu, ou uma novidade qualquer, algo a ser explicado...

Bela é uma menina com um detalhe físico diferente, não tem uma das mãos... ela já apareceu nas minhas publicações desse blog, e hoje, novamente ela faz parte da nossa história. E apesar do receio de que seus pais venham a ler este relato e identifiquem sua criança e se sintam magoados com algo, eu sinto necessidade de persistir nessas linhas, porque eu acredito que fui vitoriosa na minha batalha, que é falar as coisas certas nas oportunidades certas, a fim de construir um mundo (ao menos no futuro) mais humanizado, menos fútil, mais generoso, menos materialista.

Fomos embora dali, mas a lição foi terminada dentro do carro, na frente da nossa casa. Segui no trajeto de 10 minutos pensando milimetricamente no que ainda precisava ser dito, sobre o abraço negado por minha filha, e sobre a estranheza que o braço interrompido ainda causa no meu filho. E foi algo parecido com o diálogo a seguir:
-Vocês sabem a Bela? Ela é diferente, não tem um dos braços...
-Não é braço, mamãe. É mão... (Corrigiu-me meu menino)
-Ah, é verdade. Pois então, ela só não tem uma das mãos, mas é uma pessoa como você, e você (olhei pra minha filha)... ela é igual a gente. Existem pessoas sem pernas também, ou porque nasceram sem elas, ou porque a perderam em um acidente de carro, por exemplo. (E diante da nuvem pensativa que visualizei nos olhos do meu filho, detalhei um pouco mais a explicação...) Quando alguém sofre um acidente de carro, pode se machucar bastante, sua perna ficar ferida... machuca, sai sangue, e as vezes perde a perna. Mas isso não aconteceu porque ele quis, foi um acidente. E assim mesmo esse alguém continua sendo a mesma pessoa de antes, a perna sara, deixa de doer, mas continua sem a perna. (depois de confirmar no seu olhar que a informação tinha sido compreendida até ali, continuei...) A Bela não tem uma mão, não foi escolha dela não ter uma mão, e ela pode ficar triste por você apontar pra o braço dela...
E ele falou "Mamãe, eu só quis mostrar a você que ela não tinha uma mão"...

-Eu sei, meu filho, a mamãe entendeu. Mas eu queria que vocês entendessem também que ela é igual a vocês. Ela pode se divertir, brincar, correr, sorrir, ser amiga...

Então, ele sempre questionador, ao lado de minha caçula que apenas escutava, me perguntou preocupado:
-Mamãe! ... e se ela precisar da mão?
-Ela poderá usar sua outra mão, filho...
-E se ela precisar das duas mãos???
-Aí...ela poderá pedir ajuda de um amigo, como você... (e ele sorriu) Daí pra frente, foi um gancho de aproveitamento em causa própria) Por isso é importante a gente ter amigos filho, porque um dia podemos precisar da ajuda de alguém...
Enquanto eu os tirava do seus assentos, ele descobriu com a felicidade característica de sempre: "Mamãe, eu já sei! Minha diferença é que eu não falo direito!"... e eu tive que confirmar, ele não deixava de ter razão... Mas ele perguntou: "Qual a diferença da "Ía" (como chama a irmã) ?
Nessa hora, o esforço por uma resposta foi o maior da jornada, mas respondi mediocremente, entre risadas:
-É que sua irmã chora muito, não é, minha filha? - Respondi me dirigindo a minha pequena, que não ficou muito satisfeita, mas foi o que consegui encontrar, como eu disse, mediocremente... 
E você? O que te faz diferente? 
  

* Bela é um nome imaginário, denominado pela autora deste texto

EDITADO POSTERIORMENTE:

Dando prosseguimento nessa postagem, tenho que contar o resultado do meu abraço na "Bela" e da conversa... Isso aconteceu na sexta-feira, e hoje, terça-feira, a Bela veio abraçar minha filha novamente, e minha filha a ABRAÇOU com todos os braços que um belo e sincero abraço merecem....e sinceramente eu fiquei emocionada, foi mais rápido do que eu imaginava, e nunca vou esquecer disso, até pra deixar bem comprovado pra mim como mãe, que nada mais valioso que o exemplo!  Sem falsa demagogia, gente, vamos construir seres humanos melhores pras próximas gerações...eu estou empenhada nisso, o que estiver ao meu alcance eu farei... e não falo de ter pena de ninguém, pois ninguém é digno de pena (ou todo mundo seria digno de pena, talvez fosse a expressão correta), mas como seria bom, se os filhos autistas, cadeirantes, surdos, mudos, downs, pudesse ser abraçados sem pena, pudessem ter seu potencial à frente de suas deficiências, se pudessem ser valorizados e amados... e aquele abraço que minha filha deu nela, não teve medo, nem pena, foi sincero...ela quebrou a estranheza que sentiu antes, porque eu tirei o medo dela, quando ela me viu abraçá-la... então, a gente tem que ter muito cuidado quando fala sobre um deficiente motor (ou intelectual, ou social), na frente de nossos filhos, temos que ter muito cuidado com nossas reações, pois eles estão atentos a tudo...não podemos ensiná-los a segregar.
Faça isso, mesmo que você acredite que está no lado mais forte da população. Porque um dia, vá por mim, você poderá ser uma minoria...você poderá vir a precisar ardorosamente de uma gente mais humana ao seu redor.
Beijos

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Uma mão especial...

Hoje eu vi uma cena muito encantadora na escola dos meus filhos...não sei se a palavra é exatamente essa  "en-can-ta-do-ra"...poderia ser "bela", ou simplesmente "especial"...é, foi uma visão especial. Descrevo...

Meu filho estuda no primeiro ano do fundamental, crianças de seis anos. Finzinho da última aula, eu o esperava do lado de fora, e infelizmente não tinha ângulo para espreitar o que acontecia na sala dele...adoro observá-lo com os colegas, checar sua interação com seus pares, enfim, coisas de mãe... Mas da parede que eu me recostava, deitei meu olhos sobre a menina novata da outra turma. Essa pequena é portadora de Down e tem uma diferença a mais... um dos braços só vai até o cotovelo, não sei se foi congênito ou amputado, mas sei que isso chamou muita atenção das demais crianças, inclusive da minha. Meu filho veio me mostrar a colega nova, apontando interrogativo... isso me deixou meio constrangida, não tinha percebido seu braço interrompido, julguei que sua estranheza era sobre a síndrome do cromossomo 21, mas não era isso claro...o amigo que ele mais gosta na escola tem a mesma característica e nem ele, nem os demais colegas o distinguem como alguém diferente. Mas a anormalidade física, isso realmente causou muita curiosidade.

Então, continuando, a menina estava ali no centro da sala sentada no chão, e a frente dela, um coleguinha também sentado a sua frente, segurava a extremidade final do seu braçinho, e não apenas segurava, mas alisava cuidadosamente observando bem, como se apropriasse daquela "Mão diferente, mão sem dedos, mão especial".  Nitidamente, ele não a via como uma estranha... muito pelo contrário, nunca vi tamanha intimidade. Intimidade aqui, não é a mesma que os adultos costumam denominar, mas a intimidade relacionada a "proximidade, cumplicidade".
Eu não sou tão experiente assim, mas acredito que seria muito difícil ver uma cena daquelas protagonizada por um adulto. As pessoas segregam, repunam com o olhar, que dirá com o gesto, com as mãos...

Eu estou muito feliz de ter meu filho nesta escola, acho que realmente tem algo especial ali... um dia essas crianças vão aprender a segregar, com seus pais, seus amigos....mas quem sabe, alguns consigam preservar essa sementinha que germinou ali, nos primeiros anos de sua infância... seria maravilhoso se toda escola tivesse a graça de crianças diferentes, sejam autistas, downs, alérgicos, cadeirantes, crianças sem uma das mãos... seria maravilhoso que as crianças aprendessem a conviver com as diferenças e pudessem fazer como o menino que vi hoje: olhar, chegar perto, sentar-se a frente, apalpar , acarinhar e se apropriar da diferença, a tomando pra si e a entendendo como uma simples roupa, uma casca que guarda ali dentro o que realmente tem valor. 

Não sei se consegui passar o que pretendi neste texto, enfim, meu desejo é que esse mundo mude, não de forma espacial, não simplesmente o ar poluído, as águas que sobram ou que faltam, a desigualdade social....mas queria que esse planeta mudasse no coração das pessoas. Não parecemos mais com seres humanos, nos perdemos... e acho que podemos ainda nos encontrar novamente, se olharmos para nossos filhos.