Hoje meditando sobre meu pouco entusiasmo por datas comemorativas, percebo que isso é mais uma das inúmeras qualificações que preenchem minha ficha para possível alienígena, vivendo inconscientemente no planeta Terra. Esqueço datas de aniversários de pessoas importantes, inclusive o meu. Lembro que numa época "remota", ainda na infância, costumava contar os dias e até os meses pra ficar finalmente um ano mais velha. Não tínhamos o costume de festas, lá em casa...outros tempos! Saudosas e simples comemorações caseiras, que de dez em dez anos eventualmente aconteciam. Mas claro, eu esperava ansiosa pelos presentes, acertadamente um do meu amoroso pai.
Daí os anos foram passando,
a ponto de um ano a mais representar já um peso incômodo, um após o outro numa
velocidade incrível! E até os presentes foram perdendo o encanto, as máscaras
já caídas, alguns bons valores estabelecidos, os maus valores sendo rasgados
aos poucos... O tempo foi me fazendo entender algumas coisas importantes sobre
'datas comemorativas'. Uma delas: presentes são obrigações que custam caro,
representam uma conta a mais no cartão de crédito, um item a mais dentro do
guarda-roupa, muitas vezes sem uso, mofando numa gaveta, pra justificar um
padrão de ética útil apenas para o dono da loja que o vendeu. E a outra coisa
que aprendi sobre datas comemorativas? Porque comemorar uma data? Porque
comemorar apenas o dia que você chegou nesse mundo de luz, som e sentimento?
Porque? Se todos os outros dias foram e são mais importantes que ele? Todos os
dias que marcaram uma grande passagem na sua existência...todos os dias que
você aprendeu alguma coisa importante dessa vida... que te fez mudar de
opiniões, de estratégias, que te tornou alguém melhor, que te possibilitou
virar a última página de um grande capítulo, que te mudou o rumo. A vida é para
ser comemorada vivendo! Quem te ensinou que precisamos comprar um presente sem
valor mas que custa uma boa parcela do teu salário? Quem te ensinou que
precisamos fazer uma grande festa com mimos e decoração da moda para ficar bem
na fotografia? E passei a comemorar as datas dos outros, mas a minha não. A
minha, eu comemoro todos os dias quando abro o olho e consigo vencer a mim
mesma, eu, minha pior e mais perigosa algoz, eu venço todos os dias a mim
mesma, e me levanto, e faço minhas obrigações, e corro e corro e corro.
Ontem foi um dia de
shoppings lotados, consumismo feroz, eu também estava lá rsrs...Afinal dessa
vez às pessoas realmente se endividam por alguém que realmente merece! Neste segundo
domingo de maio, eu já comprei meu próprio presente, o da minha mãe e o da minha
sogra. Mas não podia deixar de poetizar a pureza, não da data, mas da
maternidade, essa entidade ou coisa inexplicável, que de tão grande e cheia,
não consegue caber em nenhuma palavra já inventada sem ser injustamente
subdimensionada.
A maternidade caiu na minha
vida simplesmente como um rojão devastador, exatamente assim, numa fração de
instantes, e eu, ingenuamente, acreditava que estava esperando e planejando e
sonhando com ela... nunca! Nunca eu teria a proporção aproximada do que me
esperava por trás daquele lençol na sala de cirurgia...vida que eu nutri, vida
que chorei e sorri, vida que acalentei e vi crescer e se transformar a cada
novo dia. Meu filho me transformou em mãe, e ser mãe me transformou na criatura
que eu nunca imaginei ser um dia. Meus planos, se existiam, os vi sendo
arrastados por outras vias, e eu fui seguindo a correnteza das novas águas, e
eu nunca nadaria contra esta força...
Quando finalmente me vi
convencida de que aquele "maior amor do mundo" nunca poderia ser
dividido com mais ninguém, veio minha filha pra provar que a mágica poderia ser
ainda mais bela e inacreditavelmente arrebatadora: o amor se multiplica sem
prejuízo de nenhum mísero grão do sentimento que já existia. E quantos filhos
eu tivesse, minha mãe estava certa, eu os amaria da mesma intensidade, sem
preferir seletos filhos, o amor é simples e cabe no coração da mãe...Deus há de
explicar!
Esta semana, fui às
comemorações escolares em homenagem às mães...Curiosamente, foi minha primeira
experiência, mesmo meu primogênito já cursando o Fundamental e minha caçula já
no terceiro Infantil. Nos anos
anteriores, sempre tinha um motivo maior que me impedia a participação, mas
este ano, mesmo sendo inauguração, fui sem pensar em chorar, e chorei...
Chorei com Maria Rita cantando:
Chorei com Maria Rita cantando:
"Crescendo, foi ganhando espaço / Pulou do meu braço/ Nasceu outro dia e já quer ir pro chão / Já fala mãe, já fala pai / Já não suja na cama..."
Chorei, porque comigo as
coisas não aconteceram exatamente assim como acontece com todo mundo... mas daí, a canção
continuou e eu fui chorando mais ...
" Tropeça e seguro e
não deixo cair / Se cai, levanta, continua / A porta da rua fechada / Criança
não deixo sair" ...
E quando a arte me
apresenta a estranheza de ser diferente de todos, e ao mesmo tempo tão igual,
depois de passadas pelas mãos as pedras que boleei pelo caminho, veio outro
verso...
" É cria, criatura e
criador / Cuida de quem me cuidou / Pega na minha mão e guia"...
Daí eu chorei porque a
maternidade da minha mãe me trouxe até a minha própria maternidade como uma
ciranda de roda realmente, costurada por mãos de várias gerações que se eternizam
na invisível herança. Estou aqui com meus dois filhos, minhas mais belas obras dessa
vida, minhas duas catedrais em constante processo de construção...
Este é o nosso segredo, que
por mais revelado, por maior desejo nosso de repassá-lo nos livros, nas vozes,
nunca homem nenhum poderá saber como bate o coração de uma mãe... Parabéns
mulher que nasce, parabéns mulher que morre, parabéns mulher que vive! Parabéns
ser feminino que carrega um coração do tamanho imensurável, coração materno.