(por Marilia Pinheiro)
Há mães sem maquiagem, há olheiras honestas
Não sorrriem nem respondem "bom dia"
Por que já não estão ali
Viajam por agendas e contas talvez
Outras, pensam no passado, se preocupam com o futuro
Sonham com o passado, com os sonhos do passado
Creem no futuro, nas promessas do futuro
Vivem o presente, o susto do presente
Acostumam-se
com o susto
com o presente
com o futuro do passado
com o passado dos sonhos
nas salas de espera.
Quando a porta se abre
elas regressam pra sala de espera
Recebem de volta seus filhos
Pernas metálicas em meninos bonitos
Vidas codificadas por genéticos sinais
Não conhecem o mistério
Não questionam os porquês
Apenas, e desde o primeiro dia, recebem
O filho esperado ser como nunca se esperou
Levam por aí, pela mão, pelos braços, pelos ombros
Levam também suas olheiras honestas
Seus sonhos futuros com pernas de carne
Sem metal
Sem rodas
Sem salas de espera
Vão mães
Eu fico por aqui
Minha porta ainda não abriu
Tenho ainda algum tempo pra sonhar
Pra compor uma poesia
Pra agradecer minhas pernas de carne
Que logo mais virão sozinhas correndo ou aos saltos
E o dono delas eu não vou buscar, mas tentar alcançar
Ele corre na minha frente e eu corro atrás dele
Ele sonha na frente e eu sonho o sonho dele.