1. SOBRE O 'AMARGO QUE TE TORNO DOCE'

Olá! 

Bem vindos a minha página pessoal!

Antes de mais nada, não gosto muito da palavra blogue, porque quem faz um pode ser chamado de 'blogueiro', e por favor, não me chamem de blogueira! Não que o adjetivo seja negativo, mas não tenho isso como renda, nem como rotina... escrevo de vez em quando e nem invento mais as receitas que antes inventava... Mas gosto de escrever e, vez ou outra, divulgar alguns destes escritos... No início, quando criei o 'Blogue', em meados de 2013, eu tinha uma pretensão realmente, além de escrever, que era levantar uma bandeira, responder a algumas camadas da sociedade, por uma inquietação revoltada... eu tinha uma certa necessidade de reconhecimento também, além da possibilidade de divulgar minhas receitas pífias...

Sendo assim, o tempo foi passando, o rumo da minha vida, das minhas necessidades, e até o sentido dessa página, tudo foi mudando com o passar de dois anos, a ponto de que hoje, estou reeditando não apenas a primeira página, como outras tantas... o que for pertinente fica, mas o que não é, será apagado...assim como a gente apaga da memória algumas coisas sem sabor, sem entusiasmo... Fica o que valeu a pena, fica o que agregou, fica o que me orgulhou... fica o doce e o amargo, mas o insosso vai merecer o triste fim da tecla 'delete'.

Este espaço chama-se, como no início: 'Amargo que te torno doce'. Porque nasceu assim, da minha primeira grande dificuldade como mãe: a alergia alimentar. E meu brigadeiro foi meu troféu de confirmação de que eu era capaz de anular os prejuízos embutidos na alergia alimentar. Então, assim ficou: é amargo? Então, te torno doce... Mas daí isso se reflete pra todas as outras coisas! Afinal, o ser humano tem esse dom de transformar suas necessidades em superação...a gente vê exemplos disso o tempo inteiro, nas mais variadas realidades. 

Sendo assim, começo agora a explicar um pouco da minha trajetória até aqui...

Eu sou Marília, mãe desde 26 de novembro de 2008, dia que a Arquiteta perdeu lugar para o Materno Ofício... Sim, me formei em 2005 em Arquitetura, pela universidade federal do Ceará, diga-se de passagem, foi difícil entrar, e mais difícil sair. Era a faculdade dos meus sonhos? Sim. Foi uma decisão (ser arquiteta) sem interferências de pessoas e valores externos? Sim. Mas eu sempre me senti um peixe na areia da praia, não encontrei meu 'lugar ao sol', no máximo, aluguei uns metros quadrados de terra e ergui uma cabana provisória. Por tanto, nunca me deixem culpar meus filhos por ter abandonado meu emprego e minha propensa carreira. No fundo foi uma desculpa, foi uma boa saída...enfim, não foi tão difícil optar por ser uma 'mãe exemplar que abdica do trabalho pela presença ao lado do filho'. 

O que acontece, é que aos 6 meses do seu nascimento descobrimos que tinha a tal aplv (alergia a proteína do leite de vaca), e no caso dele, foi muito chocante, porque ele fez uma anafilaxia na primeira mamadeira de leite da vida (era o Nan2). Outro agravante: ele reagia ao simples toque, às mais pequenas quantidades de leite, o que exigia uma vigilância constante, em cima de tudo e de todos. 

Começávamos então a construir nossa redoma protetora. Pela gravidade de suas reações ele precisava se alimentar em casa, por que no preparo em restaurantes ou em outras casas poderia significar contaminação da alimentação através das panelas, demais utencílios e mãos de quem trabalhou nessa refeição. Também necessitava que fosse o menos industrializado possível, pois nem os rótulos, nem os funcionários informavam corretamente sobre ingredientes e contaminação cruzada em seus produtos. Portanto, realmente, agora era verídico: eu PRECISAVA ficar em casa, ou seja, se eu já não tivesse pedido demissão há 3 meses atrás, ali sim, eu realmente TERIA por obrigação pedido pra sair.

Nas minhas pesquisas sobre o tema li muita coisa na internet e acabei chegando às redes sociais. Foi aí que consegui o maravilhoso alento de descobrir que 'não, eu não estava sozinha'...existiam pessoas das mais variadas regiões do Brasil que passavam pelas mesmas angústias, limitações, e se sentiam tão sozinhas e marginalizadas como eu, perante a sociedade. Acabei me viciando um pouco, é óbvio... era no computador onde eu encontrava meu refúgio, minha 'vida social'. E voltar a trabalhar tornou-se algo cada vez mais distante... eu tinha vontade, sentia falta, frustração, mas era bem difícil voltar.


Daí foi assim... aprendi o beabá, aprendi a cozinhar, criei várias receitas que não existiam na versão sem leite e sem ovo (descobrimos mais tarde a alergia ao ovo), inclusive, o brigadeiro, como já citei. Foi o brigadeiro que me trouxe entusiasmo na culinária, essa é a verdade. 


Depois tive minha segunda filha, com alergia alimentar também. E eu que me sentia tão preparada para ter uma segunda experiência na mesma área, fui surpreendida por uma situação completamente diferente do meu primogênito. No caso dela, as reações não eram tão concretas e evidentes, ela tinha a tipologia não-mediada. 


Nesse meio tempo passei por um divisor de águas quando recebi um possível e inesperado diagnóstico de t.e.a. no meu primogênito. De repente, a alergia alimentar, ou melhor, todo aquele dramalhão de dificuldades que eu via nela, se desmanchava tornando-a ridícula... enfim, perdoem-me quem se ofender, tive vontade de rir de mim mesma ao olhar pra trás, porque alergia não é problema...hoje vejo isso claramente! Alergia é uma evolução do homem...é o ser humano pedindo pra se salvar do que o ofende, é a natureza se protegendo do que a enfraquece... 

Acho que me apresentei! Há dois anos atrás eu era mais dramática nessa tarefa! Tirei os melindres, mas vou deixar em aspas alguns trechos abaixo... fazem parte da primeira apresentação, não vou matá-los ainda rsrs... São eles:

"Muitas de nós se recente quando alguém fala em 'doença', mas tirando o preconceito e a falta de conhecimento embutido nas 'caras de dó' dessas pessoas, realmente concordo que Alergia Alimentar é uma patologia, tanto que nosso sonho mais desejado é 'Cura'. O sonho que o organismo do nosso filho finalmente aceite aquela proteína que o corpo das demais crianças aceita tão facilmente, que enfim deixem passar, digerir e digerir totalmente..."

"Existem muitas formas de se encarar essa patologia em um filho. No meu caso, não me restou outra alternativa que não a de comprar a causa, vestir a camisa e arregaçar as mangas. Não tive como relaxar, relevar traços, expor aos riscos. Era "viver na bolha" ou "viver na bolha". Meu filho era muito sensível a qualquer resquício do alérgeno, inclusive ao toque. Era um menino que não podia ser beijado, abraçado, tocado por mãos que não fossem previamente lavadas, e bem lavadas!"
"Mas dentro da bolha não existe Cinema, Natal em Família, Parquinho do Play Ground, Escola, Viagens, nem amigos do seu filho... e chega o dia que o inevitável acontece,  o grande passo, quando se decide sair da bolha... Chantily, Mashmellow, Sorvete de Creme com Brownie, Páscoa de Chocolate, Prateleiras de lanchonetes, mesas de restaurantes, barraca de Hot-dog, pipoqueiro, tudo que vai passando pelo canto lateral do olho, o mais rápido possível para que o coração não sinta..."

"vi com muita tristeza que o Mundo não estava preparado para nós, para nossa família  especial.  E a culpa não era do mundo. A culpa era minha, e de toda mãe e pai. E desde esse momento, do 'sair da bolha', que eu trabalho tijolo a tijolo para informar ao Mundo que estamos aqui. E vou aprendendo a cada dia, com as mães guerreiras que tenho conhecido até aqui através das redes sociais. Decidi que farei de tudo para divulgar as dificuldades que enfrentamos e sei que o 'meu pequeno ato de formiguinha' somado aos de cada uma das demais mães, fará a grande diferença."

"Quero apresentar-lhes um mundo difícil de ser compreendido quando não se está dentro dele, e essa talvez seja uma das nossas principais barreiras, fazer pessoas que não conhecem essa realidade entenderem o que é isso" 

"Se você quer solucionar um problema, a primeira coisa a ser feita é provar que ele existe".

Obrigada pela atenção,

Marília Pinheiro
Novembro,2015.

Nenhum comentário:

Postar um comentário